Como ensinar seu filho a ter uma relação positiva com o dinheiro?
A educação financeira faz parte do desenvolvimento emocional e deve começar o mais cedo possível
A gestão financeira é imprescindível na vida, está vinculada à estabilidade econômica e à possibilidade de realizações profissionais e pessoais. Uma habilidade que deveria ser incentivada e desenvolvida. Mas a educação financeira infantil ainda é tratada como um tabu, como se fosse uma realidade distante, que não pactua com o desenvolvimento das crianças.
Afinal, será que existe a idade perfeita para introduzir o assunto, e como ensinar os filhos a se relacionarem de forma positiva com o dinheiro?
O conceito do uso do dinheiro deve ser tratado com mais naturalidade na família. As crianças desde cedo são estimuladas ao consumo, com forte apelo nas mídias e na publicidade.
A educação financeira faz parte da evolução emocional e contribui para a formação de adultos mais conscientes, com aptidão e autonomia para administrar custos, poupar e investir. É fundamental introduzir a criança nesse universo o quanto antes, com leveza e de forma lúdica.
Lições no cotidiano
Com o conhecimento adaptado a cada faixa etária, é possível ensinar sobre custos, trabalho, sustentabilidade e economia. As crianças aprendem mais facilmente por meio de brincadeiras, que estimulam a imaginação para absorver o conhecimento de forma orgânica.
O diálogo pode começar com jogos, livrinhos, cofrinhos ou desafios, como, por exemplo, metas para conquistar um presente ou brinquedo. Atividades que demonstram a noção de quantidade também são atrativas.
Pesquisa realizada pelo Datafolha, em parceria com o Instituto Unibanco, apontou que 97% dos brasileiros têm dificuldade de lidar com o dinheiro. A inabilidade, em parte, vem da falta de conhecimento, da lacuna existente na família e nos currículos escolares. Poucos adultos tiveram acesso à educação financeira quando pequenos.
Como mudar a realidade e estimular os próprios filhos a terem uma relação mais saudável com o dinheiro? Confira dicas de como incorporar essas lições no cotidiano.
Diferença entre necessidade e desejo
“Desejo, necessidade e vontade”: o trecho da música dos Titãs é uma boa reflexão sobre o nosso relacionamento com o consumo. Uma das tarefas da educação financeira é explicar aos filhos a diferença dessas palavras, não de maneira abstrata, mas na prática. Conceitos que se embaralham na cabeça e interferem na decisão de compra.
O desejo é a aspiração ou expectativa de possuir algo. Vontade é a força interior que impulsiona à realização, envolve a liberdade de escolhas. Já a necessidade significa o que é vital, imprescindível, como o investimento em saúde, alimentação e moradia.
Os pais precisam ensinar para a criança que nem tudo que ela deseja é uma necessidade real. É primordial comprar o lançamento da Barbie? Toda vez que vai ao shopping tem que lanchar? O adulto deve colocar limites e não ceder a caprichos.
Crianças presenteadas em excesso não associam o ganho à recompensa e têm a impressão que tudo pode ser obtido com facilidade. A tendência é não valorizar o esforço, enjoar com rapidez e desejar a próxima conquista.
Saber dizer não faz parte da educação, desenvolve a tolerância à frustração e trabalha a paciência nos filhos. O relacionamento é construído na presença e no afeto, e não na superficialidade do materialismo.
Mesada: instrumento de ensino
A mesada ou a semanada é uma boa estratégia para a criança ter o primeiro contato com a gestão do dinheiro; quando bem monitorada, ajuda a lidar com investimentos, gastos, tempo de espera, prioridades e frustrações.
Especialistas dizem que por volta dos 5 anos é o momento para começar a praticar, pois antes eles não têm a dimensão de tempo para gerenciar os valores. Nessa fase, começam a fazer pequenos cálculos matemáticos.
Inicialmente, o dinheiro deve ser dado semanalmente; a partir dos 9 aos 11 anos, pode passar a ser quinzenalmente; e, aos 12 anos, mensalmente. A criança é livre para escolher o destino do dinheiro. Mas é importante orientar, dar dicas de como fazer o valor durar. A prática vem com a experimentação.
Compras divertidas
O passeio ao supermercado ou farmácia pode ser um bom laboratório financeiro. Mostre os rótulos, as diferenças entre as marcas e os preços. Compare produtos similares, explique as vantagens e o que motiva suas escolhas. Ensine a somar os valores, faça perguntas sobre como poderia economizar e deixe a criança participar do pagamento no caixa.
Construir o futuro
O primeiro cofrinho, a gente não esquece; é uma imagem que fica registrada na memória e está associada ao hábito de poupar. O cofrinho é uma forma lúdica de ensinar o valor do dinheiro, uma maneira de ilustrar o aumento da quantidade acumulada nas moedas ou cédulas.
Estimula a alcançar os objetivos, com paciência e persistência. A ideia introduz o conceito de investimento e pode estar associada à meta de comprar algo específico. Com base nesses ensinamentos, a criança cresce com uma educação financeira sólida, e, quando se tornar adulta, estará apta a tomar decisões com sabedoria.
O planejamento do futuro será feito com mais consciência no presente, com a importância de controlar gastos, investir em um plano de previdência privada e de possuir uma reserva de emergência. O relacionamento equilibrado com o dinheiro será o caminho para conquistar a estabilidade e a sonhada liberdade financeira.