Falência do Silicon Valley Bank (SVB) ligou sinal de alerta na economia
Nos últimos dias, um dos assuntos que mais vem dominando o mercado financeiro tem sido a falência do Silicon Valley Bank, que é conhecido como o banco das startups. Localizado no Vale do Silício, a instituição possui mais de US$ 200 bilhões em ativos e a quebra repentina – em menos de 48 horas – ligou um alerta na economia, principalmente para as empresas do setor de tecnologia.
Segundo o analista da Estoa, que é uma plataforma focada em investimentos e em pesquisas multi-setoriais, Diogo da Silva, o ocorrido pode gerar impactos a curto e longo prazo para as companhias desse setor. “Empresas da área de tecnologia podem ser muito afetadas por essa quebra, levando algumas startups à falência pela falta de interesse dos investidores, gerando uma reação em cadeia no setor”, explica.
Em um cenário mais amplo, a ruína do SVB foi a segunda maior da história do setor bancário norte-americano, ficando atrás somente do Lehman Brothers, tradicional banco de investimento do país que faliu em 2008 levando à grave crise financeira daquele ano.
Para Da Silva, o caso da vez, no entanto, é mais específico por se tratar de um banco que possuía investimentos com alta exposição a risco. “[Uma crise] igual a de 2008 eu não acredito, já que a falência do SVB ocorreu por questões diferentes das do Lehman Brothers, como a própria estrutura e opções de investimentos do banco”.
Diferentemente da crise de 2008 causada pela especulação imobiliária, a derrocada do SVB veio após os aumentos dos juros nos EUA que chegaram ao maior patamar desde 2007. Com isso, a escolha do banco por ativos ligados ao governo, deixou de ser atrativa para os investidores, que resolveram sacar o seu dinheiro, desencadeando uma grave crise no SVB.
Mesmo com as suas diferenças para o cenário de 16 anos atrás, a falência repentina do Silicon Valley Bank causou uma forte queda no valor de mercado de empresas do setor bancário nos últimos dias. Esse movimento gerou uma corrida em Wall Street, conhecida como flight-to-quality (fuga para a qualidade), com os clientes fazendo depósitos em ‘bancões’ em busca de segurança.
Ainda assim, nem todas as startups que possuíam dinheiro investido no SVB poderão reaver essa quantia em um tempo hábil para continuar as suas operações e pagar funcionários. Cerca de dez mil startups de pequeno e médio porte serão afetadas em um primeiro momento, incluindo algumas empresas da América Latina que tinham mais de 80% do capital preso ao SVB.
O sentimento do mercado em relação aos efeitos dessa falência do Silicon Valley Bank nas próximas reuniões do Federal Reserve estão mistos. Desde o anúncio no último dia 10, a possibilidade do banco central norte-americano manter a taxa estável aumentou consideravelmente, mas o consenso ainda aponta para um aumento de 0,25 ponto percentual no próximo encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC).
“Não acredito que a falência do banco vá ser um fator determinante na próxima reunião, o tema provavelmente será debatido na ata, mas sem gerar impactos expressivos na decisão do Federal Reserve por agora”, aponta o analista da Estoa.
Impactos no Brasil
Aos primeiros sinais da crise financeira que se estabeleceu no setor bancário estadunidense no último final de semana, líderes da parte econômica do governo brasileiro, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passaram a ficar atentos a novos sinais do exterior.
Mas por enquanto, na avaliação do governo, os impactos foram menores do que era esperado e não apresentam perigo iminente. Para a próxima reunião do Copom, quando a taxa Selic será definida, Da Silva vê um cenário parecido com o dos Estados Unidos por aqui, sem novidades nos juros.
Para o futuro, o analista da Estoa acredita que uma nova quebra desta magnitude pode acontecer em casos específicos como o do SVB que priorizou apenas uma classe de investimentos. “O fato do SVB possuir clientes de risco como as startups e terem focado grande maioria dos seus investimentos em títulos públicos fez com que ele sofresse um enorme prejuízo com o aumento dos juros, o que o levou à quebra”.
Mas de um modo geral, o setor bancário tende a se recuperar nos próximos meses, à medida que os temores em relação a uma crise financeira como a de 2008 cessem, “isso pode ser revertido com o tempo. A queda foi uma coisa momentânea, em meio as apreensões do mercado financeiro com o que está por vir nos próximos meses”, finalizou.
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